Em 2023, um filhote recém-nascido de rinoceronte-de-java na Indonésia trouxe esperanças para a espécie altamente ameaçada. Agora, biólogos temem que caçadores tenham matado até um terço da população sobrevivente, possivelmente com ajuda interna.

Desde o ano passado, as autoridades prenderam seis supostos caçadores. Mas oito continuam foragidos, incluindo um que conseguiu fugir de sua casa horas antes da chegada da polícia. O fugitivo supostamente tinha dados recentes sobre rinocerontes no parque nacional de Ujung Kulon, em Java, o único lugar no mundo onde a espécie ainda é encontrada, o que gerou temores de que ele tivesse assistência interna.

Os caçadores afirmam que duas gangues mataram 26 rinocerontes desde 2018, entre um terço e um quarto da população estimada da espécie. “É um número enorme”, disse Nina Fascione, diretora da International Rhino Foundation, acrescentando que estava “chocada e devastada”.

Os suspeitos supostamente disseram que mataram os rinocerontes por seus chifres, que valem somas enormes no mercado ilegal na China. Embora os chifres sejam feitos de queratina, mesma substância encontrada em cabelos e unhas, eles são valorizados por suas supostas propriedades medicinais.

Embora a caça de rinocerontes por seus chifres seja comum em outros lugares, o caso indonésio surpreendeu alguns biólogos e protetores. “A caça do rinoceronte-de-java é realmente um assunto novo”, disse Timer Manurung, diretor da ONG ambiental local Auriga Nusantara, que monitora a espécie.

A caça dos rinocerontes raramente havia sido relatada nas últimas décadas em Java, a ilha mais populosa da Indonésia. Até o ano passado, quando a Auriga Nusantara relatou sinais preocupantes de que caçadores estavam invadindo Ujung Kulon. Armadilhas foram descobertas e um rinoceronte morto foi encontrado com um buraco na cabeça.

Ainda assim, a escala do problema excede os piores temores dos biólogos e levantou questões sobre como os caçadores rastrearam os animais protegidos. “Houve várias indicações de ajuda interna”, incluindo o aparente aviso ao caçador fugitivo e alegações de que ele tinha dados recentes sobre a localização dos rinocerontes, relatou Timer.

Muhammad Ali Imron, chefe do programa de florestas e vida selvagem da WWF Indonésia, disse à AFP que deve haver uma “avaliação completa” de todos os envolvidos na proteção dos rinocerontes em relação à potencial conivência.

As autoridades indonésias ainda não confirmaram qualquer ajuda interna, mas Fascione disse que caçadores em outros lugares muitas vezes operam com assistência daqueles que deveriam proteger a espécie. “Tudo o que é preciso é alguém com problemas financeiros… que precise de dinheiro rapidamente, urgentemente, e que seja suscetível”, explicou ela em entrevista ao Phys.org.

Relatos locais sobre as alegações de caça começaram a surgir em abril, mas só no início de junho a polícia e o chefe do parque apresentaram os suspeitos à mídia e divulgaram detalhes de seus supostos crimes. E as alegações dos caçadores “precisam de mais verificação, verificando os restos de ossos e outros sinais no local”, disse Satyawan Pudyatmoko, da Diretoria Geral de Conservação de Recursos Naturais e Ecossistemas da Indonésia, à AFP.

No início deste mês, um dos caçadores presos foi condenado a 12 anos de prisão, a sentença mais severa já dada por um crime contra a vida selvagem na Indonésia, após um julgamento que durou semanas.

O parque nacional também reforçou a segurança com patrulhas 24 horas por dia, e especialistas dizem que os guardas estão trabalhando arduamente para melhorar a proteção