Como acrobatas a dez metros do chão, Nena e Eliot compartilham folhas de cedro, um banquete para veganos como eles. Mas a jovem casadoira e o adolescente cheio de curiosidade são mais do que bons amigos. Eles materializam esperança para sua espécie, o muriqui-do-norte, o maior macaco do Brasil; e para o bioma da qual ela é um símbolo, a Mata Atlântica.
São protagonistas de uma história de refugiados ambientais, desenrolada em Conceição de Ibitipoca, em Lima Duarte, Minas Gerais. E será preciso muito amor, compaixão e ciência para que o final seja feliz.
Nena e Eliot integram um inédito grupo de indivíduos resgatados, que não tinham para onde ir e agora vivem numa mata transformada em cativeiro sem grades.
Ibitipoca um dia foi povoada por muriquis, bailarinos dos ares, semeadores de floresta, que chegam a um metro de altura. Hoje se esforça para recuperá-los. Chamados de macacos-hippies por sua índole pacífica e poliamor silvestre, eles desaparecem com as árvores onde vivem. Restam menos de mil muriquis-do-norte no Brasil, em Minas, Espírito Santo e sul da Bahia.
Como os seres humanos, eles são animais sociais. Mas as matas foram tão destruídas e os muriquis tão caçados, que os sobreviventes ficaram isolados, fadados a morrer de fome na solidão. Para eles, que são arborícolas, pastagens e plantações, que separam os fragmentos de floresta, constituem obstáculos intransponíveis.
Luna, um dos machos de Ibitipoca, de tanto isolamento, sequer sabe fazer sexo. Passou a maior parte de seus 27 anos na mata da qual leva o nome apenas na companhia do irmão Bertolino, de quase 40 anos.
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